ESTOU FICANDO VELHO OU MADURO? MAIS VELHO É QUEM ME DIZ!
Dizem que vida começa aos 40. A minha não! A minha começa todos
os dias quando acordo. Idade é convenção dos homens. O que importa
é tempo e todo tempo é importante.
Fico impressionado com a mudança de valores que esse começo diário
me traz. O que antes me roubava a atenção literalmente e movia meus
impulsos freneticamente na busca de conseguir, hoje, revistos esses
desejos, vejo que não preciso mais deles ou talvez, nunca os tenha
precisado, ou ainda precisei deles naquele momento para fazer parte
da minha evolução. As inutilidades que desejei me fizeram ver hoje
que não necessitava delas, continuando assim o ciclo da evolução.
Agora, no início da minha década de meio século, procuro menos
problemas - ou nenhum deles! - usando da máxima que a sabedoria
consiste na antecipação das consequências, mas não perdi a minha
capacidade de me indignar, não sou da turma do “deixa pra lá”.
Isso é visto e adjetivado pelas mentes omissas e limitadas como
“encrenqueiro”. Atualmente quero escrever minhas experiências de
vida seja em um livro autobiográfico ou em um blog, criado por mim
para desabafos. O pré-lançamento da biografia de meu Pai -
Comandante Walmir Almeida -, meu grande herói, foi um sonho que
sustentou durante anos esse romântico que a escreveu.
Pessoas? Seres humanos? Entrego-me ao voyeurismo e adoro
observá-las, cada vida uma história, desde que em uma quantidade
razoável e não aos milhares ou milhões de uma só vez. Bares?
Ainda gosto e muito, desde que tenha algo mais do que a cerveja que
eu procurava e sim uma muvuca eduacda, boa música ambiente e
tira-gostos variados e sem contar que o público ao redor seja
próximo ou igual à minha idade, para não ter que escutar
comentários como “tiozinho, tem horas aí?”. Não acho legal
pessoas não adequadas à idade, não que a idade seja uma sentença
de morte, mas querer ser cocota com idade avançada leva a certos
ridículos. Sem contar que podem me achar um pedófilo. Continuo
gostando de bares, mas hoje, daqueles que nos permitem conversar sem
ter que esgoelar sua fala para ainda assim o ouvinte entender errado.
Shows? Ainda gosto, mas não espremido nas grades que separam o
artista da galera e sim em um camarote, mesmo que em pé, ao lado de
uma boa turma e de uma bela companhia feminina.
Ainda me entrego ao prazer de ficar em casa ou de quebrar um
caranguejo, não por fazer parte do calendário que diz que tal dia é
destinado a isso e conversamos mais do que saboreamos. Hoje saboreio
lentamente entregando-me à terapia de quebrá-lo e degustá-lo ao
lado de uma boa conversa. Cerveja? Antes só não bebia acetona
porque tirava o esmalte dos dentes e o que obrigatoriamente teria que
ser feito com uma roda de amigos, hoje igualmente saboreio ao lado de
poucos amigos ou de uma única companhia que me supra com uma boa
conversa e me livre de extrapolar meu limite por não querer dizer
tchau aos amigos ou até me leve a quebrar meu limite. Essa boa
companhia pode ser eu mesmo!
Mulheres? Meus hormônios, apesar de ainda em alta, não querem mais
apenas aquele corpinho daquela gatinha gostosa que povoava meus
sonhos de adolescente e sim horas de conversas embasadas e
inteligentes que nos façam refletir se realmente precisamos de
relógio. Hoje não preciso mais daquele sexo acrobático da
juventude que quer impressionar. Prefiro até pensar muito mais na
parceira que em mim mesmo. Uma cumplicidade nata e inerente aos
grandes e verdadeiros amantes, uma admiração suprema, entre outros
mimos. Sou um romântico incorrigível por opção e posso ser
considerado um pervertido nos dias de hoje, pois ter um
relacionamento monogâmico e estar satisfeito com essa opção pode
ser considerado uma perversão, já que o certo hoje é ser errado.
Ainda desfruto da minha companhia com excelência. E adoro!
Carro? Se for para ser aquele liquidificador que eu desejava ter
quando adolescente, com a suspensão rebaixada que faz trepidar até
a alma, prefiro anda a pé(juro!). Hoje prefiro um carro “esporte
fino”, sem ser esporte demais e sem ser “carro de coroa.”. Se
bem que, devido a um acidente no paraquedismo que prejudicou minha
coluna, por obrigação médica me acostumei a andar a pé por longas
distâncias e a gostar disso, desfrutando de paisagens que antes não
apreciava pela velocidade do veículo.
Revista Playboy? Ainda as coleciono fielmente e guardo-as com
esmero, logicamente após apreciar a beleza plástica das lindas
mulheres, mas deliciando-me sobretudo nas inteligentes e
diversificadas matérias, ao contrário da adolescência, quando
muitos sequer sabiam que haviam matérias naquela revista. Blocos de
carnaval? Isso hoje me cheira a vigorosas pisadas nos pés, machos
suados se encostando em mim, beijar bocas que já beijaram outros
machos, beber cervejas até cair, mijar em qualquer canto, pois no
bloco não se urina, se mija, sem falar nas saudosas lança-perfumes
que faziam pinotar até acabar a corda ao som do trio elétrico
ensurdecedor. Não deixei de gostar, mas prefiro a calma e a animação
de um camarote, minha cerveja gelada, boas e poucas companhias que
pedirão desculpas se pisarem no meu pé, banheiro limpo e asseado
por perto e outras regalias. Mas não nego pelo menos um dia no
bloco, tenho que manter vivas as minhas raízes.
Por do sol? Antes era apenas a fase de transição entre a tarde e a
noite onde eu estivesse sentado bebericando. Agora é um momento de
contemplação onde me delicio a agradeço à Deus não só esse
momento sublime como todas as graças em minha vida, até mesmo pelo
simples, ou não tão simples assim, fato de estar vivo.
Irresponsabilidade consciente? Aquela que eu fazia na adolescência,
mesmo sabendo estar errado? Hoje troquei por uma responsabilidade
consciente, procurando ao máximo evitar problemas e pensando bem
antes de fazer algo que traga dissabores, mas uma folga aqui e outra
ali vale a pena ser feita, pois o último que andou na linha o trem
matou. Viagens? Há muito aposentei meu emprego de caça-festas e
dediquei-me a encontrar refúgios calmos e tranquilos ou, mesmo em
metrópoles, admirar lugares que tragam paz, boas compras de
leituras, boas refeições, a tranquilidade de um chopp, etc.
Esportes radicais? Abandonei-os. Esse continua sendo meu fraco, mas
depois do nascimento do meu filho, seleciono mais minhas
“radicalidades” com um planejamento prévio de riscos e analiso
mais umas dez vezes, redundantemente, procurando afastar qualquer
risco que possa deixar meu filho órfão de Pai e eu órfão da sua
companhia. Imponho limites, os mesmos que antes queria quebrar a
qualquer custo para exercitar minha macheza. Abandonei
temporariamente o paraquedismo, o mergulho submarino e as motos de
alta cilindrada. Pretendo um dia voltar, assim que meu Dudu esteja
encaminhado na vida. Qualquer curiosidade esportiva se tornou
minúscula face à curiosidade que tenho de vê-lo crescer e se
desenvolver, acompanhando-o, tal qual um artista admira sua obra.
Aliás, a minha melhor obra!
Caridade? Dar brinquedos a entidades que supostamente levariam a
orfanatos e afins já não faço mais. Hoje dedico-me diretamente nas
causas, como quando tive a oportunidade de criar um projeto social em
uma favela e ofertava minhas tardes de sábado para o ensino de arte
marcial. Gastar dinheiro? Hoje invisto no que seja útil e produtivo,
que me traga tranquilidade, massageie minha alma, me faça viver de
forma plena e abundante. Acho que chegaram ao fim os dias de gastar
dinheiro que não temos, comprando coisas de que não precisamos,
para impressionar pessoas que não conhecemos. Religião? Há muito
passei da fase de ficar em portas de igreja conversando para que
todos vissem eu era religioso, quando apenas frequentava, agora me
espiritualizo com as diversas manifestações que Deus me mostra
todos os dias, visualizando a beleza de uma estrela, de um nascer e
de um por do sol, de um oceano, do sorriso do meu filho, do meu
acordar e de muitas outras coisas que não valorizamos por serem
rotineiras.
Na verdade, pensei que estivesse ficando velho, mas tranquilizei-me
ao ver que estava apenas ficando maduro. Minha mente é hiperativa,
não me vejo - e nem me permito! - ser velho. O que antes era
imprescindível para mim, hoje não preciso mais, os valores mudaram,
não fiquei preso aos de outrora, não tenho compromisso com os
erros, eu os refiz, os atualizei, prefiro ser aquela metamorfose
ambulante do que ter a velha opinião formada sobre tudo.
Descobri também que não tenho medo de morrer, na verdade nem
queria estar presente quando isso acontecer. Tenho pena é de não
estar mais aqui nesse mundão e me descobrir cada vez mais, de
descobrir as obras de Deus, que são infinitas.
Houve um dia em que alguém surgiu em minha vida e compreendi que
era o começo de algo único, dia em que olhei dentro dos olhos desse
alguém e pude me ver dentro deles, dia em que eu percebi que alguém
realmente me queria, de um modo puro, verdadeiro e diferente dos
demais. Houve um dia em que senti minha vida completa e o meu coração
repleto de magia e encantamento. Houve um dia em que me senti feliz
por querer sem tempo e sem medida, que não precisei usar nenhuma
palavra para que pudessem realmente me entender. Houve um dia em que
tive a total certeza de finalmente ter encontrado o amor, esse dia
foi quando meu filho nasceu!!
A maior obra de Deus em minha vida talvez tenha sido a tarefa de ser
pai e mãe de um ser divino que me foi ofertado e a quem jurei amor
eterno! Daí tê-lo intitulado de Angelus. Eduardo Angelus.
Que significa criatura do paraíso que veio para modificar sua vida.
E foi o que aconteceu! Digo intitulado, pois para quem está
destinado a fazer história, o nome passa a ser um título. Tenho
plena convicção de que um dia Deus perguntará à cada pai e à
cada mãe : “O que fizestes da criança que te confiei?”.
Nesse dia...quero estar apto a responder!
“Em tudo ao meu Dudu serei
atento; e antes, e com tal zêlo; e sempre, e tanto!; que mesmo em
face do maior encanto; dele se encante mais meu pensamento.”.
Essa, foi a viagem mais importante que fiz em minha vida, a
do Eduardo que sonhava ser, ao Eduardo que quero ser!!
É aquela coisa: se estou velho, estou feliz. E...mais velho é quem
me diz!!
Eduardo
Almeida
Escritor
e Patrono da
ALES-Academia
de Letras Estudantil de Sergipe